Rosângela Rennó
Bom, como vocês podem perceber acabei dividindo o post em duas partes, já que não queria misturar os dois temas num só.
Na verdade naquele dia nem lembrava que teria o encontro com a Rosangela Rennó na Maison de France e quando meu marido o fez, já mandei um vamos! sem pensar porque semana passada acompanhei online a palestra da artista no Fórum sobre Fotografia do Itaú Cultural e como ela teve um tempo curto para falar sobre o trabalho dela, acabou sendo a oportunidade perfeita para conhecer mais.
Vamos lá. A artista RR acabou conversando com a platéia sobre uma seleção de suas obras e particularmente a importância que ela dá para o resgate da memória através de arquivos esquecidos, pesquisa que ela faz desde 1990.
O primeiro trabalho que ela apresentou se chama HIPOCAMPO, onde ela trabalha com a descrição de imagens e que faz parte do projeto Arquivo Universal. Esse trabalho é muito interessante porque a gente está acostumado a fazer leituras a partir de imagens e que podem ser lidas de diferentes maneiras, conter significados muito diferentes, o que acaba dando uma possibilidade de imaginar a cena a partir da narrativa e descrição da imagem.
Em seguida, ela apresentou o trabalho Cicatriz, uma série de fotografias realizadas a partir da reprodução de negativos fotográficos do Arquivo do Museu Penitenciário Paulista acompanhados de textos. Neste momento, a artista colocou a questão da dificuldade de ter acesso aos arquivos já que em certo aspecto ninguém tem interesse por ele e também rola uma certa desconfiança em ser usado em contra da própria instituição.
Outro trabalho interessante da artista é A01 [COD. 19.1.1.43] que trata sobre os roubos dentro de arquivos de instituições públicas. Neste caso, ela “registra” o espaço onde deveria se encontrar as fotos de Augusto Malta da Coleção Pereira Passos do Arquivo Público. O trabalho é lindo porque ela funciona como uma detetive da nossa memória, buscando recuperar aquilo que nos foi roubado com o encontrado de forma diferente aos investigadores policiais. Isto é um alerta para a sociedade pacifica que prefere deixar seu passado guardado em gavetas pois pensa que assim o está protegendo.
Tem outro trabalho que não lembro o nome foi realizado enquanto esteve no Chipre, onde pode fazer fotografias como uma turista nos lugares mais interessantes do país, entre eles a Muralha Veneziana, inclusive pela parte que é um limbo porque ainda está cercada. Controlada pela ONU e divide o país em dois, a República do Chipre e a República Turca do Chipre do Norte. A artista conta que a ONU deu a autorização para entrar nesses espaços. O resultado final da obra é um fotolivro no estilo scrapbook o qual você abre e forma uma estrela, assim como a Muralha Veneziana.
Para finalizar a apresentação, a artista contou um pouco do trabalho Río-Montevideu 2011-2016, onde fez uma seleção de negativos fotográficos do Jornal Comunista do Uruguay (esqueci qual o nome dele), que foram achados 30 anos depois do desaparecimento deles, para tratar sobre a questão da ditadura no país e sua relação com a ditadura brasileira espelhada pela memória da própria artista.
O interessante disso é que RR além da obra exposta, ela tem uma preocupação muito singular, já que como ela lida com trabalhos que remetem à arquivos e memória, ela acaba desenvolvendo um livro que pode ser visto ou como “fotolivro” (palavra que a própria artista não gosta de usar) ou como uma nova obra, já que tem uma independência completamente diferente à obra exposta, permitindo o leitor fazer sua própria leitura à diferencia de uma exposição onde se cria um circuito específico para induzir a leitura desse visitante.
O legal disto tudo, é que no final pude conversar com a própria artista sobre um artigo que desenvolvi e que de certa forma a partir de seu trabalho me permitiu pensar que é possível continuar com a ideia que venho tentando formalizar sobre os direitos autorais no Brasil. Mas isso fica para outro post.
Para conhecer mais do trabalho da artista, entra no site:
visitag.wordpress.com 